Alguns dias antes Lucian, o ex-general, abandonou os muros de pedra da cidade de Carnelian carregando uma core azul coberta por sua capa. Andou sem emoção para um ponto específico da planície rubra e após algumas horas de caminhada, quando o sol começou a se por, atingiu o ponto que pretendia alcançar; uma casa de aspecto humilde que parecia estar abandonada. Entrou empurrando a leve porta de madeira com uma das mãos e como se soubesse exatamente onde estava, caminhou até um dos cômodos depositando a maga sobre uma cama.
Samyra estava inconsciente por horas, estava pálida e tremia, enquanto Lucian sentia a temperatura de sua testa, concluindo que a maga não estava com febre, pelo contrário, pois Samyra estava fria. Vai até um baú velho a procura de um cobertor que não tivesse sido devorado pelas traças e pelo tempo e quando encontra o coloca sobre o corpo trêmulo de Samyra para em seguida deixar o aposento.
Já era noite quando o guerreiro retorna para ver como Samyra estava. Checa novamente a sua temperatura, descobrindo que esta havia diminuído ainda mais e só ao fazer isso percebe algo que chama sua atenção. Aproxima-se para poder observar melhor o que havia notado, em volta do core azulado de Samyra tinham marcas arroxeadas que ele sabia muito bem quais eram, mesmo que anos tinham se passado, não havia esquecido como elas eram. Um ódio profundo toma conta do ex-general enquanto seu cérebro fazia conexões rapidamente. Não era então de se espantar a inconsciência, a baixa temperatura... Haviam usado "a técnica" nela, e um guerreiro o havia feito! O brilho de seu core vermelho como sangue inunda o quarto e Samyra começa a tremer. Seria de frio? Lucian respira fundo tentando deixar o ódio de lado, e enquanto num armário antigo começava a procurar por mais cobertores, se recorda de fatos que marcaram a fogo a sua vida.
— Mamãe! Papai! — grita um garotinho de seus oito anos de cabelos e olhos muito escuros.
Na frente da humilde casa em que vivia com sua família, ele encontra seus pais caídos.
Corre até eles e encontra a sua mãe, sua linda mãe já sem vida e a alguns passos dela, ainda ao alcance das mechas negras daquela mulher que fora sua grande companheira, o pai dele agonizava. No peito de ambos em volta dos cores apagados círculos arroxeados eram visíveis como grandes hematomas.
— Meu filho... — o homem se esforça reunindo suas últimas forças para chamar o filho.
— Papai! — diz o garotinho já entre lágrimas.
— Fuja Lucian, não deixe que o peguem! Fuja!
— Mas papai...
— Não deixem que façam com você o que fizeram comigo e com sua mãe! Seja forte, mais forte que qualquer um...
A voz morre na garganta do homem e sua vida se esvai com suas últimas palavras.
— Papai! — diz o garoto quando os olhos do pai se fecham e ele se deixa cair sobre o peito forte onde um core sem cor e sem brilho recebia as lágrimas do pequeno Lucian.
Lucian começava a ficar preocupado enquanto deixava de lado suas lembranças, a temperatura de Samyra não parecia sequer deixar de diminuir e por mais aquecida que estivesse ela continuava a tremer de frio.
Não podia deixá-la morrer, não vítima de uma técnica tão suja, não pelas mãos de Raynor.
Olhou para a cama onde o corpo frágil de Samyra era tomado por tremores cada vez mais violentos e ele não pode deixar de sentir um certo rubor tingir-lhe a face quando a imaginou quase nua sob os cobertores.
Respirou fundo e sem ver uma outra solução começou a se despir.
Estava realmente frio, pensou quando sentiu o ar frio entrando por uma fresta na janela e indo tocar-lhe a pele nua. Afastou um pouco os cobertores com o cuidado de não descobrir sequer um centímetro do corpo dela e se deitou ao seu lado. A princípio um tanto sem jeito, procurando a melhor maneira de acomodar-se e um tanto constrangido, pois pela primeira vez compartilhava o leito com uma dama, mesmo que ela fosse uma core negro.
"Droga!" pensou puxando a jovem de core azul para mais perto e enlaçando-a em seus braços.
Tentou esquecer que estava abraçado a uma jovem atraente e que ambos estavam praticamente nus e se concentrou na raiva que havia sentido quando soube pelo sábio guerreiro que o acolhera que os responsáveis pela morte e pelo sofrimento de seus pais foram os impiedosos core negros, ódio esse que foi o combustível para o único objetivo que tinha em vida, se tornar forte, mais forte que qualquer outro guerreiro, domador ou mago, exatamente como seu pai havia lhe dito. E agora por ironia do destino tinha entre seus braços e sob seus cuidados uma deles, só que diferente de qualquer outro mago que já tivesse conhecido, o core no peito dela brilhava azul radiante como o céu, e talvez por isso não sentisse por ela a raiva que sentia pelos outros.
Samyra parecia aos poucos se acalmar e como se procurasse por calor aconchegou seu corpo ao de Lucian e ele não pode deixar de sentir um arrepio gostoso percorrer-lhe o corpo. Sentiu um misto de piedade e simpatia pela jovem maga e envolvendo-a num abraço protetor, deixou que o sono viesse e o levasse.
O dia amanheceu frio, Lucian sentia a brisa da manhã a encontrar parte de seu rosto descoberto, porém, o resto de seu corpo estava aquecido, e a maga em seus braços também. Deixou o calor dos cobertores e da core azul, com o máximo cuidado possível, vestiu-se e saiu para arranjar algo para comer.
Horas depois o sol já brilhava radiante e o ex general já tinha organizado quase tudo; havia cortado lenha, trazido água e também alimentos. O trabalho fazia com que o leve frio que estava agora na planície, com o sol a esquentar, desaparecesse.
Volta e meia Lucian parava, fitando algo que definitivamente não estava ali, ou talvez tivesse estado algum dia, e entre pausas e tarefas aproveitava para ver como a maga sob seus cuidados estava.
A temperatura de Samyra se mantinha amena, mas sua expressão demonstrava dor. A core azul parecia ser visitada por pesadelos, e era tomada por leves tremores. Estava totalmente inconsciente. Lucian não podia fazer muito mais por ela, a não ser esperar que melhorasse.
E assim o tempo passa, até que o sol começa a sumir no horizonte e um vento mais frio começa a soprar.
— Hora de parar. — diz Lucian para si mesmo sorrindo ao lembrar-se de sua infância, quando o vento frio não o incomodava e quando sua mãe a essa mesma hora costumava chamá-lo para tomar banho e jantar.
Já estava totalmente escuro quando a luz de um lampião entrava no quarto com as janelas fechadas que Samyra repousava, e também tremia. O guerreiro temia que sua temperatura estivesse a abaixar novamente, porém após conferi-la descobriu estar totalmente enganado, Samyra estava em estado febril.
Lucian sai do quarto, retorna com água e panos limpos, e enquanto deixa um já umedecido sobre a testa da maga, sai rumo à cozinha para preparar um chá com ervas recém colhidas, que alguns minutos depois ela toma entre delírios e palavras desconexas.
Não houve jantar naquela noite, Lucian permaneceu o tempo todo ao lado dela tentando a todo custo conter a febre, e foi ali aos pés da cama onde Samyra estava que Lucian acabou adormecendo, com a mão da maga entre as suas e com a cabeça repousando sobre o colo dela, onde aos poucos o azul do core foi se tornando mais vivo.
Em Carnelian, com a morte de Raynor e o exílio de Lucian, o povo ficou a mercê da tirania de Oringo e sua obsceção em conseguir o core branco, já que agora ele teve a chance que sempre esperou, de se tornar o único líder daquele povo.
— Em que está pensando Oringo?
Era o sábio Einar, visivelmente preocupado com o futuro de seu país, agora totalmente nas mãos do ambicioso Oringo.
— Veio ter certeza de que eu estou mesmo vivo?
— Infelizmente sua vida agora é muito importante para que eu me deixe levar por nossas desavenças e por minha vontade de vê-lo morto.
— Você me ofende dizendo essas coisas, Einar, pensei que tivesse mais consideração pela minha pessoa! — Oringo tentava parecer ofendido, mas se sentia mais do que satisfeito por finalmente ver as coisas tomarem o rumo que ele sempre esperou.
— Não seja cínico, Oringo, eu sei mais do que ninguém que apesar de ter se aliado a Raynor contra Lucian, você sempre quis chegar onde está sozinho.
— Já que tocou no assunto, estive pensando em novas estratégias para avançarmos de forma mais efetiva nessa guerra.
— E o que sugere General?
— Em acabar com a raiz de nossos problemas em Fuscienn e Glaucoviren. Mais especificamente falando, Vega e Oran. Vamos acabar com nossos mais perigosos inimigos em seu próprio território.
E não muito longe dali Samyra desperta. Se vê deitada sobre uma cama e inteiramente coberta por cobertores. Ela repousa a mão sobre seu core que sentia dolorido e olha em volta curiosamente tentando compreender o que estava a acontecer. A maga vê duas cadeiras e uma mesa de madeira, sobre esta uma jarra e alguns potes, um armário feito também de madeira e uma porta como abertura para o próximo cômodo. Assim que tenta observar o que este outro cômodo em questão possuía, o core rubro responsável por sua captura em Glaucoviren aparece ali.
— Vejo que acordou — diz calmo com sua voz grave. Lucian chega próximo a ela — Como se sente? — aproxima sua mão da testa da maga com a intenção de verificar sua temperatura, ela repudia a atitude do guerreiro, segurando fortemente seu core e ao mesmo tempo se preparando para se distanciar a todo custo. O core rubro calmamente retira sua mão e se mantém próximo da cama — Como está seu core?
Samyra se assusta.
— Deixe-me em paz! — diz ela apertando sua joia azulada e tentando se levantar apoiando em um dos braços — Fique longe de mim! — Samyra não ousaria entoar uma magia, sabia que sucumbiria se o fizesse.
Diante de tal atitude o guerreiro sai do aposento.
O que pretendiam fazer com ela agora? Samyra não poderia deixar que aquilo acontecesse novamente, nunca mais! Ela precisava sair dali! Mas como? Sentia-se fraca, sem energias, frágil... Desta forma estaria completamente a mercê de qualquer um que tentasse se aproximar de sua joia, ou de seu corpo.
Um arrepio toma conta da maga, e seu core dispara fazendo-o arder ainda mais. A core azul o segura.
Pouco tempo depois Lucian retorna trazendo consigo um prato com sopa e uma colher. Ele os deposita na pequena mesa que havia ao lado da maga.
— Eu não darei se quer uma resposta para vocês. Estão perdendo seu tempo! — diz a core azul na defensiva tentando ao mesmo tempo se apoiar novamente em um dos braços. Ela começava a arfar pela dor.
— Você quer tanto assim morrer? Por que não fica quieta? — diz o core rubro com um tom de descaso na voz.
O core da maga ardia muito enquanto ela tentava continuar apoiada em seu braço.
— Meu clã sabe onde fica sua cidade, não irá demorar muito para que me encontrem!
— Realmente, não duvido que possam ter ido atrás de você. Porém não estamos mais em Carnelian...
Por essa a maga não esperava. Como poderiam encontrá-la agora? Esse deveria ser o plano dos guerreiros, deixando-a em um lugar desconhecido. Mas por sorte o local parecia não ter muita segurança...
A dor no core de Samyra se torna insuportável pelo esforço, ela grita, encerra o apoio do braço e se mantém arfando.
— Se você pretende se recuperar é melhor parar de se mexer — finaliza Lucian gravemente antes de abandonar o cômodo.
— Preciso sair daqui! — pensa Samyra.
A maga tenta ignorar o prato que estava ao seu lado, tenta pensar em um plano para escapar do lugar onde estava, porém não demora muito para que ela se decida por tomar a sopa enquanto pensa que dessa forma adquiria energias.
Termina sua sopa com muito esforço e coloca o prato ao seu lado.
Samyra se mantinha deitada pensando no que poderia fazer para escapar, nesse momento ela percebe que alguém se aproximava, fica atenta, preparada para se esforçar ao máximo caso necessário. O guerreiro se aproxima apenas para retirar seu prato.
O tempo passava e a tarde escurecia, e a jovem permanecia apreensiva, tentando pensar em possibilidades para fugir, tentando descobrir onde estava. Não obtinha muito êxito em seus pensamentos...
Algum tempo depois de escurecer totalmente, Lucian dormia sentado próximo a Samyra em uma das cadeiras encostada agora à parede. Um lampião aceso iluminava o quarto.
“Pretende me vigiar dormindo core rubro?” — pensa a maga.
Esta então aproveita para tentar fugir. Com muita dificuldade se apoia em um dos braços, e o outro deixa sua mão segurando fortemente seu core ainda bastante dolorido. Prepara-se para se levantar...
— Acho melhor você não fazer isso — diz Lucian de olhos fechados.
— Eu não fico abaixo do mesmo teto que um guerreiro... Nunca mais!
A maga se apoia em seus dois braços, tentava se levantar.
— Se continuar insistindo nisso vai provocar lesões sérias em seu core!
— E não é isso que vocês querem? Perde seu tempo se acha que eu vou esperar para ser torturada de novo!
— Você não vai mais ser torturada.
— E por que você acha que eu vou acreditar nisso?
— Acredite no que quiser... — Lucian diz enquanto saía do quarto — Por que eu estou perdendo o meu tempo? — diz a si mesmo enquanto se sentava em uma cadeira se preparando para voltar a dormir.
Enquanto isso Samyra permanecia na cama, esperando que a qualquer momento veria entrar seu torturador. Novamente um arrepio lhe percorreu e ela tentou se levantar, mas qualquer esforço era em vão, toda a força que possuía para se levantar quando usada provocava uma enorme dor em seu core. Sua joia não suportaria tal feito. Samyra estava confinada em uma cama a mercê de core rubros.
A maga permanece arfando segurando seu core e acaba adormecendo por cansaço.
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2 comentários:
Owwwwwwwwwww. Este capitulo está demais mesmo. Já estava começando a torcer por Lucian, agora mesmo que acho ele meu herói favorito. *ainda bem que consegui ser a primeira a ler e a comentar XD*
Confesso que cheguei a pensar algumas coisas mais pervas na hora que ele sentiu Samyra se aconchegar. *acredito que numa outra oportunidade vocês farão os dois se entenderem, pelo menos estou torcendo pra isso XD*
Meninas, adorei mesmo este capitulo, e agora que não vou parar de encher o saco das duas. Quero o 6º capitulo senão eu enlouqueço. Por isso, mãos a obra... ou melhor, mãos no teclado. Vocês sabem do que eu sou capaz de fazer se demorarem muito pra postar.
Beijos
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