sábado, 23 de maio de 2009

Abina Genma - Capítulo 4


O tempo passava e Vega não via nem sinal de sua irmã ou do guerreiro e a falta de pistas começava a irritar a core negro.


Samyra já havia tomado demais do seu tempo com aquela fuga idiota e já havia passado tempo o suficiente para parecer uma irmã preocupada. Quem sabe que destino ela havia encontrado em Carnelian? Talvez já tivessem dividido seu core e assim dominado sua vontade, a essa hora ela já podia estar servindo com seu corpo aos desejos daqueles bárbaros.

Samyra sempre foi fraca e sendo fraca talvez vivesse muito tempo assim entre os cores rubros de Carnelian, pois mesmo sendo fraca era uma mulher, e era assim que os fracos sobreviviam, se submetendo.


— Hora de voltar para Fuscienn. Preciso de um banho e de roupas limpas!


Ela estava decidida a deixar a irmã para trás, mas então algo faz com que ela volte atrás em sua decisão...




Completa-se uma semana desde que Samyra havia chegado à cidade dos guerreiros. Ela resistia, não havia proferido uma palavra sequer e assim achava que seria até o destino sorrir de alguma forma para ela. Já havia tido certa recuperação de seus ferimentos graças às ordens de Lucian, que queria a maga viva até obter respostas. Esses acontecimentos se tornaram mais um motivo para a discórdia entre os três generais de Carnelian.


— Uma semana... — dizia Raynor gesticulando com as mãos — Faz sete dias inteiros que este projeto de core negro está comendo às nossas custas e não abriu o bico! Uma semana! — ele erguia seu punho e olhava irritado para o chão.



— Se Lucian não fosse tão frouxo... — diz Oringo com as mãos para trás sobre sua capa, observando o nada.



— Se... Se... Cansei-me dos "se's"! — diz Raynor abandonando seu punho em uma mão aberta em direção ao chão — Darei um jeito nisso... E será hoje!



— Não faça nada na frente do servo... Ele pode nos causar problemas...


Raynor sai da sala deixando Oringo para trás com um sorriso no canto de sua boca. Ele sabia que finalmente havia chegado a hora de Raynor mostrar a sua verdadeira face.



Durante tarde da noite Raynor vai até as prisões, encontra a de Samyra, destranca a cela e entra.

A core azul estranha a presença dele, mas continua muda, agia como se nada pudesse abalar sua vontade. Raynor por sua vez sorria.


— Sabe o que magos como você merecem? — diz o guerreiro enquanto se aproximava calmamente de Samyra.


A maga não faz menção de virar o rosto em direção ao general. Este então retira a venda da maga enquanto posicionava seu próprio rosto na frente do dela.


"Pensando bem, essa maga pode me proporcionar um pouco de diversão" pensa o general enquanto a avaliava. Aproxima sua mão da face da jovem e esta se afasta. Ele faz com que ela o encare, segurando de forma brusca seu rosto. O guerreiro caminha sua mão até o pescoço alvo mas é empurrado pelas mãos acorrentadas de sua dona. Raynor sorri e a encara. E nesse momento uma forte rajada de vento o empurra contra a parede oposta da cela. Samyra assim que se viu podendo falar fez a única coisa que conseguiria fazer bem, invocou uma magia, porém o efeito não havia sido como o esperado, uma semana sem se alimentar devidamente como seu corpo exigia e somado à suas mãos estarem completamente presas, sua magia não foi capaz de provocar qualquer estrago útil, e só fez enfurecer o guerreiro arremessado.


Raynor se levanta enquanto um filete de sangue escorria por sua têmpora, se aproxima novamente e desfere um tapa no rosto de Samyra, para em seguida tapar a boca da core azul com uma das mãos.


— Assim está melhor, não é? Vamos ver por quanto tempo ainda consegue se manter orgulhosa!


Olha bem dentro dos olhos arroxeados dela e com sua mão ele encosta sobre seu core, que emitia sua luz de um azul profundo, ele o podia sentir quente, liso, rígido, e assim a vida da maga a sua frente estava em suas mãos. Antes que mais algo acontecesse ele aperta seu core, Samyra se põe a gritar, um grito mudo, vago, sua voz agora não saia, não por que não queria falar, mas por que não conseguia mais; tudo era dor, uma dor inexplicável, parecia que toda ela, toda a sua matéria e espírito, eram feitos desse sentimento; ela se debatia, debatia sem muito se mexer, já deitada ao chão seu peito arfava e elevava tentando inutilmente por instinto se livrar da mão de seu agressor; seus olhos fixavam o nada; suas pupilas não mais pareciam existir; sua boca parecia querer capturar todo o oxigênio presente na sala de uma vez. Ela não percebia respirar, ouvir, ver, sentir ou viver. Apenas continuava sentindo dor enquanto pontas continuavam a apertar seu núcleo, a sua vida, a que pouco a pouco parecia se esvair sob a mão daquele homem.

Raynor observava a tudo, cada mudança, desespero, angústia, cada ponta de dor que ela sentia ele podia saber, ele conseguia saber.

Retira sua mão, na pele de Samyra em volta de seu core resta uma marca avermelhada, revelando uma agitação como quando uma pedra é jogada em um lago.


— Ora ora... — aproxima seu rosto da pele alva, sorri e se afasta.


Ele sai da cela rindo deixando Samyra tendo espasmos ao chão, de olhos arregalados e boca escancarada. Agora o core rubro sabia que a maga faria o que ele quisesse. Com absoluta certeza.


Estava tudo tão escuro e frio. Samyra já não sentia seu corpo. Era como se ele não existisse, como se agora ela não fosse mais carne, mas apenas dor.
Queria gritar, mas era como se sua voz estivesse lacrada em sua garganta, e se gritasse quem ligaria para uma maga, ou para o sofrimento dela. Ali ela não tinha ninguém para protegê-la, então de que adiantaria gritar?
Ouviu passos, eram pesados como os que havia ouvido antes da dor. Ela temeu, pois junto com os passos veio a voz, a mesma que zombava de seu orgulho enquanto a torturava.


— Como está minha flor azul do deserto?


Ela se encolheu o máximo que pode, sabia que não teria forças para resistir e pela ironia na voz dele, ele sabia também.


— Normalmente eu jamais me sujaria me deitando com uma core negro, mas eu fiquei muito curioso — disse ele se aproximando. Samyra podia ouvir as peças da pesada armadura serem jogadas no chão — Dizem que as mulheres de Fuscienn são frias, que fazem sexo sem desejo. Pois bem, estou disposto a esse pequeno sacrifício para descobrir se é verdade.

Lucian olhava na direção das prisões, por algum motivo não conseguia parar de pensar na maga e por mais que estivesse ocupado naquela manhã, vez ou outra seus olhos se voltavam naquela direção.


— Só espero que ela tenha se alimentado, não me servirá de nada morta.


Os pulsos presos tentavam fracamente se livrar das algemas. Tudo o que ela queria era se livrar daquela mão imunda em seu rosto. Não sentia tampouco a energia necessária para entoar qualquer magia, se o fizesse consumiria completamente sua energia vital, o que a mataria instantaneamente.


— Que gosto uma maga tem? – disse Raynor gargalhando, para depois pressionar a boca suja contra os lábios de Samyra.


Um nojo terrível se apoderou dela e reunindo suas forças, ela virou o rosto.


— Ainda rebelde! Sabe eu até gosto de sua determinação, mas já cansei disso!


Com um movimento brusco ele a segurou pelas pernas se colocando entre elas. Samyra novamente tentou resistir, mas recebeu um forte tapa no rosto.


— Devia se sentir honrada — dizia Raynor rasgando num único golpe o vestido de Samyra — aposto que nenhum daqueles magos assexuados poderão lhe dar isto! — a vontade de Samyra era vomitar, estava prestes a ser estuprada e mal podia resistir a seu agressor.


“É o fim!” pensou.


— SE AFASTA DELA RAYNOR! AGORA!


Raynor olhou para trás, mas não precisou disso para reconhecer a voz.


— O garotinho Lucian quer brincar com a maga também? Mas apenas depois que eu terminar.

— EU DISSE PARA SE AFASTAR!



Lucian avança contra ele, fazendo Raynor se afastar de Samyra. Lucian pega sua espada enquanto seu core brilhava ferozmente.



— Lucian! Pretendes me enfrentar? — Raynor pega sua arma, ele sabia que Lucian seria um oponente muito difícil — Pertencemos ao mesmo clã! É esta escória que merece isso! — diz o general apontando para a maga ao chão.



Lucian não mais ouvia, com seu core emitindo a mais perfeita cor de sangue investe sobre Raynor que apenas consegue se defender por um triz com sua espada. Lucian força sua entrada e corta a defesa de Raynor, que aproveita para atacar Lucian. Este se defende habilmente e ainda faz com que aquele dê alguns passos para trás causado pela sua força.



— Vou mostrar à você onde é o seu lugar!



Raynor tenta mais uma vez avançar contra Lucian, mas este foi mais rápido, produzindo naquele um ferimento fatal em seu core. Raynor cai com seu core inteiramente cinza. Estava morto.



— Lucian! O que fizeste garoto? — diz o ancião da cidade que chega atraído pelo barulho da batalha e percebe a espada do guerreiro suja de sangue.



— Não pretendia mata-lo... Não era apenas a morte que ele merecia...



— Se matas um semelhante seu, não podes mais viver conosco. Lucian, está expulso de nosso clã!



O guerreiro se mantém calado, a decisão do ancião era irrevogável. Lucian arrebenta as correntes da inconciente maga, retira sua capa e a cobre.



— O que pretende fazer? — questiona o ancião.



— Ela é responsabilidade minha — dizendo isto ele sai da prisão e posteriormente da cidade de Carnelian, atraindo vários olhares e comentários por parte de guerreiros curiosos.



Dois dias então se passam. Agora Carnelian reconhecia apenas um líder que havia finalmente conseguido o que queria, se livrar de Lucian, e além disso Raynor havia morrido, deixando a situação do único general mais ideal do que ele poderia supor dias antes.


"Raynor morreu por que foi um idiota" pensava Oringo, o único general remanescente para o clã dos guerreiros.


— E Lucian foi outro idiota... Atitude típica de um servo. — continuava a pensar o core rubro enquanto andava presunçoso por Carnelian.


Apesar disso, o dia havia amanhecido como outro qualquer. E assim parecia que seria, até aquele momento...


— Mas o que? — se espanta, gritos também podiam ser ouvidos.


Uma parte dos grossos e resistentes muros de pedra que envolviam à cidade rubra havia sido derrubada. Em meio a escura poeira que se havia erguido, uma maga adentrava pela recém criada abertura. Muitos guerreiros já se preparavam para atacá-la, portando enormes lanças pontiagudas e Oringo foi o mais rápido dentre eles, portando sua espada com seu meio core vermelho reluzindo. Porém não tão rápido foi, não o suficiente para conseguir acertar a core negro em questão. Ela o ataca utilizando de magias.


Vega tinha um brilho assassino nos olhos, enquanto o sangue jorrava pelas já muitas feridas abertas no general Oringo, causadas pelas sucessivas explosões invocadas pela poderosa core negro. A sua volta uma centena de soldados apontavam suas armas para ela.

O general ria nervosamente.



— Acha mesmo que se me matar vai conseguir sair ilesa?



— E você reles guerreiro, acha que suas lâminas poderiam sequer me tocar?



Todos ali conheciam a fama de Vega e a maneira como nunca media esforços para conseguir o que queria.



— Não precisa mais ferir ninguém, o que você procura não está mais aqui!



Um velho guerreiro chamado Einar, conhecido pela sabedoria e grande experiência em batalha e também por ser o ancião dos guerreiros, havia acabado de chegar e sabia que ela não poderia ser derrotada sem que um verdadeiro massacre acontecesse ali antes.



Vega apontou uma das mãos então para o ancião.



— Então se não quiser morrer velho, diga onde ela está.



— Ela partiu há dois dias, junto com Lucian!


— Para onde eles foram? — questiona Vega com sua voz autoritária.


— Em direção ao sol nascente...

Um comentário:

Kayla disse...

Ahh, que maldade maninhas! Logo agora que estava tão bom.

Esse capitulo foi tudo o que não imaginei, e olha que tive muito tempo para imaginar hein. XD

Embora Luciam mau tenha aparecido nesse capitulo foi de grande valia quando surgiu.

Quanto a Vega, ela é excelente. só falta um pouco de coração nela. rsrs

Espero ansiosa pelo proximo capitulo.


Beijos